quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Estamos todos conectados

Estamos todos conectados.
Porém, essa conexão precisa resultar em inclusão.
Eu recebo, quase em tempo real, as informações a respeito de uma tragédia ocorrida em qualquer lugar do planeta.
Mas será que as vítimas de tais catástrofes sabem o que ocorre no mundo? Será que elas conseguem imaginar o que existe longe de seus países? A resposta é não.

Essas pessoas, espalhadas, principalmente, pela África e Oriente Médio, não têm tempo para mais nada, a não ser para sobreviver diariamente. É uma realidade completamente diferente da que vivem americanos, franceses,...
Não possuem informações suficientes, como eu e você, que somos procurados, e achados, pela notícia. Ainda não fazem parte de uma inclusão verdadeiramente social, que as tragam para uma vida digna.

A globalização capitalista tem seu lado bom. Permitiu o avanço econômico e tecnológico, que impulsionou uma melhora significativa em índices de desenvolvimento social em muitos países. A economia se expandiu ao se tornar global, o mundo se interligou, mas não se uniu. Hoje, vivenciamos inúmeras conquistas, que permitiram o começo de uma nova realidade. Porém, não para todos.

Os países periféricos foram, como sempre, os que mais sofreram os malefícios dessa aldeia global.
A economia destes não é forte o bastante para ser capaz de acompanhar os países mais desenvolvidos, que continuam obtendo inúmeras vantagens no cenário econômico e político mundial.


A Rodada de Doha fracassou, pois, de um lado, os europeus e os norte-americanos queriam a abertura do comércio dos países em desenvolvimento aos seus produtos industrializados. De outro, os países em desenvolvimento queriam que a União Européia e os Estados Unidos diminuíssem os subsídios existentes.
Ou seja, trata-se de uma questão de protecionismo, gerado pelo medo de uma política liberalizante que possa causar prejuízos econômicos ao mercado nacional. Pois, no capitalismo globalizado, é preciso estar sempre vencendo a concorrência estrangeira.

Com o novo papel de quase protagonismo de países como o Brasil e a Índia (que integram com a Rússia e a China o BRIC), perde força o modelo centralizador de poder que vem reinando desde o fim da Guerra Fria. Percebeu-se que é necessário integrar o que antes era periférico, já que vivemos em um mundo multipolar com crescente desenvolvimento global. Isso é bom, e já vem tarde.

A ONU precisa readquirir sua credibilidade e voltar a exercer ativamente seu papel de mediação. Isso será possível quando uma guerra vetada por seus membros realmente não ocorrer, diferentemente da Guerra do Iraque, onde George W. Bush ignorou a resolução do Conselho de Segurança que ia contra a invasão norte-americana ao país de Saddam Hussein. Acontecerá também quando países como o Brasil tiverem, na ONU, a mesma importância que têm no cenário atual.

Para que um mundo melhor para todos comece a surgir, é preciso deixar um pouco de lado os interesses financeiros, que desgraçam os países mais pobres e o meio ambiente.

Não há a ajuda necessária aos países africanos por exemplo.
Ao longo dos séculos, não tiveram chances de desenvolvimento, e, agora, com a globalização, continuam não tendo. Como vão competir no mercado com potências como os Estados Unidos? Quem irá ajudá-los efetivamente?
Sim, pois ajuda humanitária somente não basta. É preciso criar condições para que esses países cresçam economicamente, que fortaleçam a democracia, que vençam a miséria, o desemprego, as doenças que tanto matam.

É preciso financiar os pilares do crescimento. Medidas paliativas não irão acabar com o problema, apenas maquiá-lo. Esses países precisam caminhar com suas próprias pernas, mas, para isso, é necessário que sejam ajudados de forma concreta.


Outra questão primordial é a do meio ambiente, que tanto vem sendo debatida, porém sem medidas correspondentes à sua importância.
Alguns não querem limitar seu crescimento econômico em prol do nosso planeta. Países em desenvolvimento não acham justo terem que cumprir taxas de redução de emissão de CO2 iguais às dos países desenvolvidos, já que não se consideram os responsáveis pela situação atual.

E realmente, historicamente falando, esses países poluíram muito menos, já que começaram a atividade industrial de forma tardia.
Não podemos comparar os danos causados pela Inglaterra, que começou a se industrializar no século XVIII, aos causados pelo Brasil, que iniciou sua industrialização no século XX.
A herança histórica é muito diferente.

Os países em desenvolvimento têm o direito de poluir (e crescer) o que os desenvolvidos poluíram ao longo da história? Se olharmos puramente pelo aspecto econômico, sim. Eles têm o direito de se desenvolver, mesmo prejudicando o meio ambiente, assim como fizeram Estados Unidos, Inglaterra,...
Mas se olharmos pelo lado humanitário, não. Só possuímos uma moradia e temos que preservá-la acima de tudo, pois nada valerá o dinheiro se não existirmos. Os erros do passado não justificam os erros do futuro.

As fronteiras geográficas não podem existir quando tratamos da preservação do nosso planeta. Não devemos ser mais americanos, franceses, brasileiros, chineses, sul-africanos, russos. Agora, devemos ser, acima de tudo, da espécie humana. Somos um só.
Estamos todos conectados.

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sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

A Presença de Noel


Não é exagero dizer que a safra de sambas de enredo para o carnaval de 2010 é a melhor da década, embora isso também não queira dizer muita coisa. Mas com certeza ficará marcada, em especial por causa de uma composição que já nasceu fazendo história. A Vila Isabel levará para a Sapucaí um samba da autoria de um de seus mais ilustres baluartes e compositores: Martinho da Vila. E logo num enredo extremamente sentimental para a agremiação. Com o título de "Noël, a Presença do Poeta da Vila", a campeã de 1988 e 2006 vai contar a trajetória de Noel Rosa, figura de extrema importância para a escola e famoso morador do bairro.
Falando do samba, já é uma obra reverenciada por todos aqueles que amam carnaval e entendem a sua importância. Não apenas pelo valor emotivo que ela carrega mas por ser totalmente diferenciada de tudo o que é visto hoje em dia. É um samba que vai tentar resgatar o que o carnaval atual não tem mais. Não é um samba feito pra ser funcional, pra fazer a arquibancada levantar com um refrão, pra explodir o coração na maior felicidade. É um samba que valoriza a melodia, que possui letra poética e bem trabalhada. E com isso busca trazer novos moldes para o gênero, que com o passar dos anos se perdeu, tornando-se mais comercial e priorizando animação à emoção.
A Vila resolveu arriscar e o desejo de todos os que ainda têm esperança no carnaval é de que dê muito certo e que seja um exemplo a ser seguido no futuro. E não poderia arriscar com enredo melhor, com compositor melhor. A escola vem com bagagem pra brigar por seu terceiro título e, mais do que isso, mudar os rumos da maior festa popular do Brasil.

VILA ISABEL 2010 - “NOËL: A PRESENÇA DO POETA DA VILA”

Autor: Martinho da Vila

SE UM DIA NA ORGIA ME CHAMASSEM
COM SAUDADES PERGUNTASSEM
POR ONDE ANDA NOËL
COM TODA MINHA FÉ RESPONDERIA
VAGA NA NOITE E NO DIA
VIVE NA TERRA E NO CÉU
SEU SAMBAS MUITO CURTI
COM A CABEÇA AO LÉU
SUA PRESENÇA SENTI
NO AR DE VILA ISABEL
COM O SEDUTOR NÃO BEBI
NEM FUI COM ELE AO BORDEL
MAS SEI QUE ESTÁ PRESENTE
COM A GENTE NESSE LAUREL

VEIO AO PLANETA COM OS AUSPÍCIOS DE UM COMETA
NAQUELE ANO DA REVOLTA DA CHIBATA
A SUA VIDA FOI DE NOTAS MUSICAIS (BIS)
SEUS LINDOS SAMBAS ANIMAVAM CARNAVAIS
BRINCAVA EM BLOCOS COM BOÊMIOS E MULATAS
SUBIA MORROS SEM PRECONCEITO SOCIAIS

FOI UM GRANDE CHORORÔ
QUANDO O GÊNIO DESCANSOU
TODO O SAMBA LAMENTOU
Ô Ô Ô
QUE ENORME DISSABOR
FOI-SE O NOSSO PROFESSOR
A LINDAURA SOLUÇOU
E A DAMA DO CABARÉ NÃO DANÇOU
FEZ A PASSAGEM PRO ESPAÇO SIDERAL
MAS ESTÁ VIVO NESTE NOSSO CARNAVAL
TAMBÉM PRESENTES CARTOLA
ARACI E OS TANGARÁS
LAMARTINE, ISMAEL E OUTROS MAIS
E A FANTASIA QUE SE USA
PRA SAMBAR COM O MENESTREL

TEM A ENERGIA DA NOSSA VILA ISABEL (BIS)


O restante da safra é bom, com os sambas de Beija-Flor e Imperatriz se destacando entre os demais. Aliás, a escola de Ramos vem com uma obra aclamada no mesmo nível da de Martinho, sendo considerado um dos melhores da agremiação e a colocando no patamar de favorita. O "Mar de Fiéis", como já é conhecido, rivaliza com a obra da Vila na opinião dos especialistas pelo posto de melhor samba do ano.
O que se sabe e se sente no mundo do samba é que a partir do próximo ano muita coisa tende a mudar... No mínimo já temos obras que com certeza não serão esquecidas na quarta-feira de cinzas.


Por André Ramos

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