domingo, 21 de junho de 2009

Ipanema virou o Brasil




Em sua coluna no "O Globo", Arnaldo Jabor escreveu a respeito do problema crônico do Rio de Janeiro: a proliferação da miséria.
Ela não se limita mais aos morros e periferias da cidade, está em toda a parte. Até mesmo em áreas consideradas nobres, como Ipanema, as desigualdades sociais estão cada vez mais expostas e marcam a deteriorização e abandono do Rio.
E todos nós, cariocas, lidamos com as consequências desse processo no nosso cotidiano.
Abaixo, alguns trechos da coluna do Jabor.

"Tom Jobim nadava com força na Lagoa Rodrigo de Freitas naquele verão de 1944. Parou um instante, já chegando ao Sacopã, e olhou em volta, imaginando como seria Ipanema dali a 20 anos. A lagoa era clara, cheia de peixes e garças. Ipanema era uma promessa de vida em seu peito molhado.
Leila Diniz estava rindo no Bar Jangadeiros, em minha mesa, 20 anos depois. Nós éramos jovens, na luz de Ipanema; como Joyce escreveu, estávamos “felizes, moços, perto do selvagem coração da vida”. E eu pensava: “Meu Deus, que alegria! Até quando seremos assim?” Tínhamos uma espécie de paraíso social ali entre Copa e Leblon. Tom Jobim diria anos depois: “O Brasil será feliz quanto tudo for uma grande Ipanema”."

"Hoje, nos afligimos com tantos pobres que expõem suas feridas nas esquinas, com tantos vagabundos descendo dos morros.
O que incomoda a população branquinha não é só o assaltante, é o passeante. Pardos passeantes de chinelos e calção enchem a Zona Sul. Eles pressentem o medo dos classe-médias e desfilam com garbo. O carioca branco se indigna, como se só ele fosse nativo. Vejo que meu mal-estar diante do caos carioca é um mal-estar de classe. Sim, há um horror de classe nos cariocas “brancos”; querem mudar o Rio para ontem, querem que o Rio “volte” a ser algo de “antigamente”. É mentira que tememos apenas a violência. Tememos também a promiscuidade."

"Hoje, nas ruas de Ipanema, parece que ando num Rio do inferno. O ritmo lento dos desocupados se cruza com os olhares trêmulos de madames e aposentados correndo para trás das grades, biquínis em frente a mendigos, população branca temerosa, movendo-se pela “folga” da “crioulada” e os mendigos que jazem nas portas de igrejas, criancinhas brincando na sarjeta, mamadeira e esmolas, caixotes e pernas abertas."

"O Rio é hoje a saudade de algo que já foi.
Ninguém ama o Rio como ele é. Só os miseráveis que hoje ocupam as praias amam o Rio – são seus anos dourados.
O Brasil não virou Ipanema. Ipanema virou o Brasil.
Silenciosamente, as 600 favelas que o egoísmo construiu fizeram a revolução parda. A democracia já desceu o morro.
A bruta face da miséria desmoralizou a sentimentalidade branca."


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3 comentários:

  1. pois é, aqui no rio é complicado. até no leblon, ipanema, barra tem favela e barrado. é meio diferente de sp, que tem bem definida a ideia de periferia. aqui é td meio misturado: pobre com rico, morro com asfalto, legal e marginal.

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  2. Nunca vi tanto preconceito num texto só e quanta generalização. Pra ele ser pobre é ser preto?
    Rs... Vou ficar quieta que é pra não falar besteira !

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  3. Tenho que concordar com Jabour. Basta dar uma passada na praia do Arpoador em um dia de sol(como fizemos essa semana)para constatar a veracidade das palavras de sua crônica.

    É dificil aceitar, mas basta parar para observar que Ipanema tornou-se exatamente isso. Ainda mais agora com a chegada do Metrô.

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