sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Rio de Janeiro, 27 de fevereiro de 2040

Que verão é esse? Temperaturas absurdamente altas, temporais com granizo, ventos destruidores. Hoje, somos vítimas de nossos próprios erros, reféns da natureza que tanto castigamos durante séculos.
O Rio de Janeiro não é mais o mesmo. O carioca, agora, teme a chegada do verão, e não mais o espera durante todo o ano, pois sempre foi a estação símbolo dessa cidade, desse povo. Alegria, descontração, praia, carnaval. Neste fevereiro de 2040, o cenário é bem diferente.

Por isso, voltemos ao verão de 2010. Tinha apenas 19 anos, áureos tempos. Ipanema fervilhava. Dois meses antes, em dezembro de 2009, fora inaugurada a Estação General Osório, que fez com que Ipanema ficasse ainda mais acessível (Leblon, Gávea, Barra, Marte! ainda estavam no papel).
Pessoas dos mais variados lugares da cidade se aproveitaram disso e fizeram de Ipanema o centro do verão carioca naquele ano.
Foi também o verão de ir para o Arpoador à noite, que se transformava em point a partir das 20h, 21h. Público bem selecionado (diferente do público diurno), areia iluminada, água limpa, inclusive com cardumes de peixes, fizeram daquela faixa de areia um ótimo programa pra quem queria fechar bem mais um dia de verão.
A moral da nossa cidade estava em alta, pois tínhamos sido escolhidos como sede da Copa do Mundo de 2014, na qual nos sagramos hexacampeões mundiais, e das Olimpíadas de 2016.

Éramos como uma flor prestes a desabrochar. Lula havia colocado o nosso país em um patamar nunca antes visto. Havia nascido a potência que hoje somos. O Rio ganhava destaque. Artistas internacionais, como Madonna, haviam se tornado figuras fáceis nos nossos hotéis.
Para se adequar a esses tempos de modernidade que surgiam, o prefeito da época, Eduardo Paes, criou o chamado “choque de ordem”. Com isso, tentava acabar com as ilegalidades ou imoralidades (ou apenas malefícios) que já eram comuns por aqui.
Foi, assim, o primeiro verão em que o carioca não pôde jogar altinha e frescobol na areia perto do mar antes das 17h. E quase foi um verão sem o, na época, popular mate de galão, que acabou escapando das proibições do prefeito.

O carnaval de 2010 foi organizado, se comparado aos anos anteriores. Os mijões de rua foram presos em quantidade considerável, banheiros químicos foram multiplicados, assim como os blocos, que também atraíam cada vez mais foliões. A campeã daquele ano foi a Unidos da Tijuca, com um desfile que levantou a Sapucaí, que ainda não era o que é hoje.
O sol começava a mostrar seu potencial, com o qual hoje tanto sofremos. Foi um dos verões mais quentes da história até então. As temperaturas no RJ permaneciam entre os 40 graus. Calor que não pode ser comparado ao que enfrentamos atualmente, mas sofrível para a época.

Eram tempos de ficar o dia inteiro, inclusive à noite, na praia. Tudo acontecia ao redor de Ipanema. A Farme de Amoedo ficava entupida de turistas, a antiga Chaika, que hoje é uma Igreja Evangélica na Visconde de Pirajá, era o local de refeição para os freqüentadores do posto 9.
Ao longo dos anos tudo foi mudando. Lembro com saudade daqueles dias. Eram tempos de mudança. Ipanema, o Rio, o Brasil, o mundo, começava a se transformar no que é hoje. O Rio de Janeiro continua lindo.
Mas nada foi o mesmo. Nunca mais.

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quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Um pouco de luz

Três livros lidos recentemente (“Francisco de Assis”, “1984” e “O Símbolo Perdido”) me fizeram escrever esse pequeno texto, uma breve exposição de idéias.

Em cada época, sempre existiram pessoas mais esclarecidas do que a grande massa. São os chamados “a frente de seu tempo”. Estes conseguem enxergar além, conseguem ver o que as pessoas ao seu redor não conseguem, já que ainda não são capacitadas para tal.
São geralmente considerados loucos ou meros rebeldes, pois não se enquadram no padrão pensante da época em que vivem. No geral, são compreendidos apenas gerações mais tarde. Em vida, sofrem e morrem por suas idéias.

A evolução não seria possível se ao longo dos séculos não houvesse surgido esses gênios capazes de fugir do óbvio.
A missão dessas pessoas era justamente essa: promover a renovação, permitindo assim o ciclo evolutivo da existência humana.
Exemplos não faltam ao longo da história: Francisco de Assis, Gandhi, Einstein, Da Vinci e tantos outros, cada um com sua função, sempre de especial importância.

A ignorância é o pior dos males, porém ela é essencial para o controle correto da evolução, já que tudo tem sua hora de ser e é prejudicial antecipar as mudanças, as rupturas.
O tempo certo para que ocorra uma real mudança evolutiva é quando a maioria das pessoas está pronta, espiritualmente, para ser parte dessa nova realidade.

Exemplos ruins também fazem parte desse processo. Assim, as pessoas enfrentam todo o sofrimento causado por serem ainda ignorantes, imperfeitas e viverem em um mundo ainda impuro. Passando bem por essas difíceis tarefas em vida, se tornam cada vez mais iluminadas.
Não existe crescimento sem dor. Não saberíamos o significado da luz se não conhecêssemos a escuridão.

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