quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

para ser tudo

Sol morno da tarde, vento gelado que traz o cheiro de cada sensação
colorido do céu
Verde vivo no balanço das árvores, noite quente de luar
um preguiçoso prazer de existir
A letra do poeta, uma roda de amigos
conversa jogada fora
Timbre doce da sua voz de menina, o prazer do reencontro
meu sagrado amor
O perde e ganha, lágrima e riso
sabores de cada estação
Espetáculo de viver

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sábado, 23 de janeiro de 2010

Olhos de criança

Botafogo, quase 18h. Esperando o sinal abrir para atravessar, eu olho para o lado e vejo o Cristo Redentor refletindo o brilho dos raios de sol, como se estes saíssem do próprio Cristo.
Uma visão espetacular, mas que não estava sendo vista pelas pessoas próximas a mim, preocupadas demais com o próprio cotidiano para enxergar a vida como ela é.
Às vezes, é preciso parar um pouco para admirar, para agradecer.
Especialmente em uma cidade como o Rio de Janeiro, onde vemos um cartão postal em cada esquina.
Os turistas que aqui chegam se encantam com os cenários de nossa cidade, enquanto que nós, cariocas, continuamos com os vidros fechados em um engarrafamento na Lagoa, indo à praia de Ipanema sem reparar na beleza do formato do Dois Irmãos, não se surpreendendo com a visão inesperada do Cristo a partir de muitos cantos da cidade.


Não podemos nos cansar do habitual, mas sim valorizar e reverenciar o lugar que moramos: a cidade mais bonita do mundo.
Devemos ser como as crianças, que ficam fascinadas com tudo, já que tudo é inédito para elas. Por que só o novo nos causa fascínio?
Uma imagem, quando vista pela décima vez, permanece tão bela quanto da primeira vez, o que muda é o nosso olhar já acostumado, já envelhecido.
Então voltemos a ter olhos de criança.
A vida é muito mais bela do que a gente costuma ver. É preciso apenas ter os olhos certos para enxergar.

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sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Reze pelo Haiti

Um pensamento:

Um haitiano anda nervoso pela rua destruída e repleta de corpos espalhados em meio aos escombros. Nos braços, segura firme, como se fosse um filho, a sacola de comida que conseguiu na disputa animalesca com outros haitianos pela sobrevivência. "Os seres humanos me assombram" - pensa ele.

Não tem mais nada. Dois dias antes perdera mulher e filha no tremor que devastou o já castigado país.
Por um momento, sente esperança no futuro, pois acabara de garantir mais alguns dias de vida com a comida que vai administrar cuidadosamente, longe da cobiça da multidão de desesperados.

Quase chegando em seu destino, sente que alguém pressiona um objeto cortante em suas costas.
- Passa a sacola ou te furo - diz um miserável de olhos famintos.
- Faça isso. Morrerei do mesmo jeito se te der a sacola. Me fure e acabe de uma vez com essa dor, que vai me perseguir enquanto eu viver.

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sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Elas fazem samba também

Desconhecidas do grande público e um pouco obscuras até mesmo para aqueles que acompanham carnaval, as escolas de samba pertencentes aos grupos de acesso não possuem um espaço apropriado na mídia em geral.

O grupo de acesso A ainda possui maior apelo, já que com a drenagem feita no grupo Especial, muitas escolas conhecidas acabaram rebaixadas, como Império Serrano e Estácio de Sá, outrora campeãs do grupo principal, e as irreverentes São Clemente e Caprichosos de Pilares. Além de outras escolas de um pouco menos expressão na atualidade, mas que no passado também fizeram bonito e frequentaram o Especial algumas vezes, como Império da Tijuca, Unidos de Padre Miguel, Rocinha, Paraíso do Tuiuti e Santa Cruz. Também há escolas mais novas, como a Renascer de Jacarepaguá, que é considerada uma escola promissora, possivelmente figurando entre as grandes nos próximos anos.



Mas os demais grupos não recebem uma cobertura digna, sendo sequer mencionados em outros veículos que não pertençam às mídias especializadas.

No grupo de acesso B, hoje nomeado de Rio de Janeiro I, também há agremiações expressivas como Tradição, Lins Imperial, Jacarezinho e Arranco do Engenho de Dentro, todas com passagem no grupo Especial. Ao serem rebaixadas ao que seria a terceira divisão do carnaval, acabaram completamente abandonadas pela imprensa, e quem quiser alguma informação sobre elas fica sem qualquer alternativa.

Nos demais grupos a situação é ainda mais complicada. Os grupos Rio de Janeiro II, III e IV (os antigos grupos C, D e E) nem ao menos desfilam na Sapucaí, tendo seu carnaval resumido ao público que acompanha suas apresentações na Intendente Magalhães. E um público que só não é menos numeroso pelo fato desses desfiles serem gratuitos, já que eles ocorrem nos mesmos dias de desfiles dos outros grupos, no Sambódromo. Estão entre elas Vizinha Faladeira, já campeã do Especial; Unidos da Ponte, tradicional, com diversas passagens pelo primeiro grupo; Unidos de Lucas e Em Cima da Hora, duas das mais importantes escolas do estado, tendo a primeira apresentado “Sublime Pergaminho”, em 1968 e a segunda “Os Sertões”, em 1976, dois dos melhores e mais famosos sambas-enredo de todos os tempos.



Além dessas ainda há outras escolas menos conhecidas, mas que também possuem sua tradição, como Arrastão de Cascadura, Unidos do Cabuçu e Leão de Nova Iguaçu, ambas também com passagem pelo Especial. Fora algumas outras escolas promissoras como a surpreendente Corações Unidos do Amarelinho, que fez seu primeiro desfile em 2005 e desde então sempre figurou entre as primeiras posições, tendo em 4 anos ascendido de grupo 4 vezes.

O pouco interesse do público por essas agremiações e seus desfiles só ajuda a as afundar cada vez mais. Se ao menos tivessem direito a uma cobertura decente, com certeza chamaria a atenção daqueles que as viram brilhar no passado. Mas apenas o Especial recebe atenção, o desfile principal, o que passa na Globo. Ao acesso A resta a transmissão da CNT, ao acesso B, a transmissão da Rádio Manchete e aos demais grupos, só Deus sabe...

Em 1990 a São Clemente apresentou o enredo “E o Samba Sambou”, que previa, de forma pessimista, como seria o carnaval no futuro. Em 2010 a mesma agremiação trará o enredo “Choque de Ordem na Folia”, cujo samba possui os versos “Eu bem que te avisei que o samba um dia ia sambar...” Por que não escutaram a São Clemente no ano de sua melhor colocação? Ah, talvez porque no ano seguinte ela tenha sido rebaixada, sumido de vista, e sua mensagem caída no esquecimento.


Por André Ramos

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