terça-feira, 23 de novembro de 2010

Presta atenção

Pra que tanta mentira, meu amor
Seu brilho vem dos olhos
Não das palavras que saem da sua boca
Pra que tanto desejo de machucar
Quem tudo faz por você
A vida vai te ensinar
Que não é preciso nada disso
Pra quem sabe amar
E o seu mundo construído de aparências
Vai desmoronar
E quando isso acontecer, meu bem
Todo o amor já terá se afastado
Só restará seu riso vazio
Impossível de se acreditar
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segunda-feira, 20 de setembro de 2010

A questão da soberania cultural e a defesa dos direitos humanos

Culturas diferentes devem ser sempre respeitadas. Mas, e se determinada cultura adota práticas bárbaras, inaceitáveis no século XXI? Deve haver a interferência da comunidade global ou a indiferença e o respeito à autonomia cultural de cada nação?
É notório o avanço do Brasil no campo diplomático durante o governo Lula. Nunca fomos tão respeitados no cenário internacional e tivemos, inclusive, nosso presidente sendo chamado de “o cara” por Barack Obama. Cultivamos, nestes últimos anos, a imagem de um país que dialoga com todos, inclusive com governantes totalitários, como os ditadores Kadafi, da Líbia e Ahmadinejad, do Irã, além de Hugo Chávez e sua turma no bloco sul-americano.
Por um lado, isto é bom, considerando as pretensões do Brasil de se tornar membro do Conselho de Segurança da ONU, pois, mantendo sempre boas relações, nosso país se destaca como um forte mediador entre nações de ideologias distintas.
Porém, até que ponto é válida essa política de diálogo irrestrito, que acaba legitimando governos que violam os direitos humanos e que possuem práticas que ameaçam a estabilidade mundial?

Além disso, agindo assim, o Brasil, muitas vezes, contraria potências como os EUA. Um exemplo disso foi o fracasso da tentativa brasileira de evitar sanções ao Irã, devido ao seu programa nuclear. Muitos especialistas consideraram que o presidente Lula errou ao entrar em uma questão muito complicada, cujas chances de sucesso eram bastante remotas.
O fato mais recente é a da condenação por apedrejamento da iraniana Sakineh, acusada de adultério. A cultura no Irã e as leis que lá prevalecem são dignas da Idade Média. Nosso presidente, aproveitando-se da amizade com Ahmadinejad, pediu que Sakineh fosse transferida para o Brasil, o que não foi aceito. Apesar dessa atitude, Lula afirmou que é preciso levar em consideração a legislação e a soberania de cada país.

O mundo deve sim pressionar para que a mentalidade de determinadas culturas evolua, para que os direitos humanos sejam respeitados. É muito difícil mudar conceitos arraigados por séculos de tradição e alimentados por radicalismos religiosos, porém a comunidade internacional deve rejeitar atitudes como essa. Nesse caso, acima do respeito à cultura alheia, deve prevalecer o bom senso e o lado humanitário.
Na globalização em que vivemos, é triste perceber o quanto certas sociedades permanecem “fechadas em seus casulos”, sem procurar fazer parte dessa nova realidade. É claro que a identidade cultural de cada país deve ser preservada, mas isso não impede que haja uma evolução de pensamento. Levar uma cultura para outros lugares é extremamente necessário, pois assim os diversos conhecimentos são distribuídos.
Portanto, não devemos aceitar certas práticas de sociedades que não progrediram, que matam e torturam seres humanos baseadas em fundamentalismos irracionais. A verdade de quem não procura conhecer as outras verdades é sempre errada.

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terça-feira, 10 de agosto de 2010

Maria e Eduardo

Os anos e, principalmente, Maria, transformaram Eduardo.
Na Lapa, o começo, em Botafogo, fim.
Impossível imaginar que aquela prostituta, tomada por debilitações, pudesse ser protagonista de uma história.
Eduardo não bastava. Queria mais.
Colecionou corações, mas sempre voltava ao único lugar para uma mulher como ela.
O tempo passou e a relação dos dois era de estranhamento.
Palavras eram veladas, algo estava pra acontecer.
E Eduardo fez explodir. Não matou Maria por pura insanidade.
Nada de racionalidade (ou falta dela), e sim amor e rancor, que estavam bem guardados.
Por todos os namorados que ela arranjou, pela falta do carinho que ele julgara receber.
Pensou que comprara o amor dela quando lhe tirou da prostituição e lhe deu dignidade. Mas ela vendia sexo, não amor.
Amor é sorte e Eduardo não a teve. Maria também não, pois, ao aceitar que lhe tratassem como gente, traçou seu destino: seis tiros em um quarto.

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quinta-feira, 29 de julho de 2010

O normal é ser louco

A realidade nasce da subjetividade de cada um. O que é real pra mim pode não ser pra você, e vice-versa. Nós fazemos nossos próprios mundos, cada um com o seu, mas nunca existente sem os outros “mundos individuais”.
Papo louco. Mas quem pode dizer o que é loucura e o que é realidade? Vivemos em uma linha tênue entre o real e a fantasia. A imaginação interfere muito mais na vida prática do que o contrário.
Uma coisa torna-se impossível no momento em que você a define como impossível. Nada é impossível, é só questão de achar possível. Tudo é mente, pensamento. O que eu penso e acredito é unicamente o que existe, ou o que vai existir.
Se virmos uma pessoa falando sozinha na rua, certamente pensaremos: “que louco!”. Mas quem definiu que o normal é não falar consigo próprio em voz alta? Quem não se encaixa no padrão é logo definido como anormal ou estranho. As pessoas temem o diferente, porque o diferente é imprevisível e o imprevisível foge do controle.
Todo mundo é louco. O normal é ser louco. Mas a maioria consegue esconder a loucura sob uma aparência de normalidade, que não é repleta em ninguém.
A separação entre o louco e o normal, na verdade, não existe, é cultural. A cultura, ao longo da história, é que definiu padrões de pensamento e comportamento. O que realmente existe são desvios, maiores ou menores, ao que foi estabelecido como regra.
Dizem que pensar enlouquece. Não enlouquece. Ao pensar estamos apenas construindo nosso próprio mundo, que é diferente do que encontramos na vida cotidiana, mas que é absolutamente natural para nós mesmos. Então por que não colocá-lo em prática? O pensar é o existir.

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sexta-feira, 23 de julho de 2010

viver pra morrer

Vida e morte andam lado a lado, negociando a todo instante.
Cada pessoa faz o seu melhor, e também o seu pior, enquanto vive.
Parte divina e humana entram em choque o tempo todo. Não há vencedor, pois sempre ambas existirão.
Manifestar o lado animal é necessário. Não faz mal a fraqueza, os ciúmes, o egoísmo. Tudo isso é ser humano em sua essência. O dever é ser um bom humano, mas ainda humano.
Quem já viveu muito, mesmo sendo jovem, sente-se feliz e com vontade de experimentar muito mais. O mundo se adquire e se saboreia. Mas o tempo é implacável, leva tudo embora.
E aí vem a morte, que, finalmente, venceu a luta contra a vida. E não tem problema. No final, a vida é a vitoriosa. Ganhou muito mais.

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terça-feira, 13 de julho de 2010

Metafísica

A roda girou
Marcou 90, 180
Aquele segundo se foi
No toque e no cheiro da pele
Conheceu-se o novo
Na cor dos seus olhos se afogou
Sua voz se fez necessária
A ausência que transformou o amarelo em cinza
É gota de cachoeira diante de uma vida
Tudo é pequeno perto do "eu e você"

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quinta-feira, 3 de junho de 2010

Mais uma de Israel

O ataque ao navio turco de ajuda humanitária que tentava furar o bloqueio à Faixa de Gaza e que resultou na morte de nove ativistas fez com que aumentasse a pressão mundial sobre Israel.
Os israelenses afirmam que se tratavam de terroristas que estariam abastecendo o Hamas (grupo radical islâmico que controla a Faixa de Gaza desde 2007), porém essa informação mostrou-se equivocada. A Turquia, aliada estratégica de Israel, afirmou que as relações entre os dois países "nunca mais serão as mesmas".
O mundo, agora, pressiona para que Israel acabe com o bloqueio comercial que exerce sobre a Faixa de Gaza. Mas, segundo o primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu, não é o que acontecerá. Ele diz que seu país, mais uma vez, está sendo vítima de hipocrisia e pré-julgamento tendencioso.
Israel justifica o bloqueio afirmando que ele é necessário para enfraquecer o Hamas (já que as armas que entram em Gaza se voltam contra os civis israelenses) e para que Gaza não se torne um porto iraniano, o que configuraria uma ameaça.
Porém, ao invés de enfraquecer, Israel só vem fortalecendo o Hamas. O ódio gerado pelo bloqueio comercial e atitudes estúpidas como o ataque ao navio de ajuda humanitária alimentam radicalismos de oposição no Oriente Médio e isolam cada vez mais o país.

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sábado, 22 de maio de 2010

Cada Copa do Mundo é uma história

1930 – A primeira taça é azul celeste
1934 – O fascismo de Mussolini é campeão mundial
1938 – A Itália é bicampeã, Leônidas da Silva é o artilheiro
1950 – Depois da Guerra, a Copa do Mundo volta com um Maracanazo




1954
– A favoritíssima Hungria de Puskas cai na final pra Alemanha
1958 – Com Nilton Santos, Didi, Pelé e Garrincha nasce o gigante Brasil
1962 – As pernas tortas de Garrincha nos levam ao bicampeonato





1966 – A Inglaterra de Bobby Charlton vence a Alemanha
1970 – Pelé e um timaço fizeram esquecer a ditadura por alguns instantes
1974 – O Carrosel de Cruyff não resiste à Alemanha de Beckenbauer






1978 - Em casa, o ditador argentino Videla quis ser campeão
1982 - O Brasil cai em Sarriá. O futebol muda com a conquista da Itália
1986 - Maradona leva a Argentina ao bicampeonato
1990 – Liderada por Matthäus, a Alemanha é mais uma vez campeã
1994 – Maradona é pego no antidoping. Baggio erra. Romário traz o tetra






1998 – Um Brasil apático é facilmente batido pela França de Zidane
2002 – A “família Scolari” faz do Brasil o único pentacampeão
2006 - Os craques do Brasil se apagam. Itália vence a França nos pênaltis






E como será 2010?
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segunda-feira, 19 de abril de 2010

3:28

Madrugada, lar dos boêmios, dos poetas.
Dos que praticam o amor em forma de loucura ou dos que simplesmente preferem viver enquanto o resto todo dorme. Ás vezes, é difícil aceitar a idéia de ter que acordar no dia seguinte.
É cansativa a repetição dos dias.
Mas é impossível escapar de si mesmo e muito difícil fugir dos outros e da rotina.
Quem nunca quis dormir pra sempre? Não ter que enfrentar o mundo exterior (e interior).
Dormir é mais fácil. Pura lei da inércia.
A madrugada é a hora que cada um leva o seu lado louco pra passear, livre de pessoas, só com sentimentos.
É a hora que cada um passa a ser o que quiser. Interpretar e brincar com palavras e atitudes, pois nada é sério na madrugada.
A vida é uma experiência sociológica e a partir da meia-noite este fato entra em evidência.
O que penso agora pode não fazer mais sentido amanhã.
Os pensamentos pertencem ao instante.

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terça-feira, 23 de março de 2010

XADREZ


Mais um dia. As pessoas se mexendo como peças de xadrez.
Avançando e recuando, avançando e recuando...
Pura estratégia.
As peças mais fracas são engolidas com uma naturalidade fria.
Jogo é jogo.
As mentes mais fortes ditam cada jogada.
Existem as peças suicidas também.
Estas agem por impulso, se aproximam muito do inimigo, sem obedecer as ordens racionais do jogo que jogam.
São as que conseguem as vitórias mais impossíveis e as derrotas mais humilhantes.
Um Rei sempre se blinda do perigo, mas deve passar a impressão de que se sacrificaria a qualquer hora pelos seus súditos.
Um blefe ideológico que traz sustentação ao poder.
A maioria das peças precisa de um líder para dizer qual é o seu próximo passo.
O inimigo tenta trazer para o seu lado as mais fáceis.
Joga-se por jogar, em um ciclo contínuo.
A vida é um jogo de xadrez que nunca acaba.
Pessoas caem e outras novas surgem no tabuleiro.
Quem não quer jogar apenas observa as pessoas se mexendo como peças de xadrez.
Avançando e recuando, avançando e recuando...

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sexta-feira, 19 de março de 2010

"Sejamos realistas, peçamos o impossível"

Mobilização popular é algo fundamental para que as mudanças ocorram.
A história nos mostra isso. Ir para as ruas protestar sempre foi eficaz, quando o resultado não foi imediato, serviu para plantar uma semente importante para mudanças futuras.
Os estudantes sempre foram peça-chave nesses processos. No "Maio de 68" na França, os estudantes, principalmente os da Sorbonne, liderados por Daniel Cohn-Bendit, montaram barricadas no Quartier Latin para exigir mudanças no ensino e questionar os valores da sociedade francesa.
As manifestações tomaram proporções assustadoras, contando com inúmeras greves de estudantes e trabalhadores. O Maio francês foi sufocado, mas foi um fator determinante para a saída de De Gaulle do poder no ano seguinte.


No mesmo ano de 68, os estudantes brasileiros iam às ruas para lutar contra a ditadura instalada no país. A manifestação mais expressiva foi a "Passeata dos Cem Mil". Ela foi inflada pela revolta com a morte do estudante Edson Luís na invasão do Calabouço, apenas um dos fatos lamentáveis ocorridos no período, assim como o incêndio do prédio da UNE e o "Massacre da Praia Vermelha".
Vladimir Palmeira, hoje deputado federal pelo PT, e Franklin Martins, hoje ministro da Comunicação Social do governo Lula, eram dois dos mais importantes líderes do movimento estudantil.


Depois veio o início da abertura política com Figueiredo, a força dos trabalhadores com o PT, o "Diretas Já", a democratização, o "Fora Collor", a estabilização econômica e política com FHC, culminando com a consolidação democrática e o crescimento do nosso país com Lula.
O PT, enfim, chegou ao poder. E o poder mudou o PT.
Figuras de caráter inquestionável (Gabeira, Marina Silva, Chico Alencar e Heloísa Helena) perceberam que o PT não era mais o partido de esquerda incorruptível de antes. Quem hoje vê José Dirceu e José Genuíno flagrados em atos de corrupção se sentem traídos, já que estes, quando não estavam no poder, sempre levantaram a bandeira da ética.


Em troca da governabilidade (o presidente depende do Congresso para governar), acordos devem ser feitos. Mas a ideologia do partido e do presidente devem estar acima de tudo. Muitos políticos acabam se sujando em busca do poder. Política é assim. E é por isso que o povo, e os estudantes, devem estar sempre fiscalizando a conduta de nossos representantes.
Que sigamos o exemplo de tantas gerações que fizeram valer a sua voz e conquistaram tudo o que temos hoje.

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sexta-feira, 12 de março de 2010

Política externa do governo Lula

O governo Lula apresenta uma interessante política externa.
O objetivo é claro: incluir o Brasil no grupo de países mais influentes do mundo e, assim, conseguir a tão sonhada vaga no Conselho de Segurança da ONU. Para tal, inúmeras medidas foram realizadas, especialmente nesse último mandato.
A participação do nosso exército na pacificação do Haiti (e após o terremoto, na restauração) é um destes feitos. Mostrar envolvimento e participação ativa em ajuda externa é importante para quem quer obter níveis mais importantes nos organismos internacionais.

Outra questão que pode ser citada é em relação ao FMI. O Brasil, de devedor passou a credor. Como o próprio Lula diz “nunca antes na história deste país” vimos algo assim. Representou a quebra de uma herança maléfica.
Porém, o mais importante é a característica da nossa diplomacia. Não possuímos relações estremecidas com nenhum país, embora tenha havido motivos para tal (vide o caso da nacionalização, pela Bolívia, do gasoduto da Petrobras). Mantemos diálogo aberto com presidentes altamente questionáveis, como o do Irã e da Líbia, mesmo contrariando a opinião de potências como os EUA.
Isso é importante, pois nos coloca como um país dialogador com todos, o que nos tornou o mais importante mediador internacional. Por outro lado, até que ponto isso vale a pena, quando se está legitimando governos anti-democráticos?

A admiração do Obama e do Sarkozy, que disse que Lula “é o cara”, não é em vão. Crescemos muito nos últimos anos.
Se Fernando Henrique ajeitou a economia, Lula nos deu projeção internacional. Resta saber se o próximo presidente dará continuidade ao que está sendo feito de bom e melhorará o que há de ruim.


* Do Informômetro

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Rio de Janeiro, 27 de fevereiro de 2040

Que verão é esse? Temperaturas absurdamente altas, temporais com granizo, ventos destruidores. Hoje, somos vítimas de nossos próprios erros, reféns da natureza que tanto castigamos durante séculos.
O Rio de Janeiro não é mais o mesmo. O carioca, agora, teme a chegada do verão, e não mais o espera durante todo o ano, pois sempre foi a estação símbolo dessa cidade, desse povo. Alegria, descontração, praia, carnaval. Neste fevereiro de 2040, o cenário é bem diferente.

Por isso, voltemos ao verão de 2010. Tinha apenas 19 anos, áureos tempos. Ipanema fervilhava. Dois meses antes, em dezembro de 2009, fora inaugurada a Estação General Osório, que fez com que Ipanema ficasse ainda mais acessível (Leblon, Gávea, Barra, Marte! ainda estavam no papel).
Pessoas dos mais variados lugares da cidade se aproveitaram disso e fizeram de Ipanema o centro do verão carioca naquele ano.
Foi também o verão de ir para o Arpoador à noite, que se transformava em point a partir das 20h, 21h. Público bem selecionado (diferente do público diurno), areia iluminada, água limpa, inclusive com cardumes de peixes, fizeram daquela faixa de areia um ótimo programa pra quem queria fechar bem mais um dia de verão.
A moral da nossa cidade estava em alta, pois tínhamos sido escolhidos como sede da Copa do Mundo de 2014, na qual nos sagramos hexacampeões mundiais, e das Olimpíadas de 2016.

Éramos como uma flor prestes a desabrochar. Lula havia colocado o nosso país em um patamar nunca antes visto. Havia nascido a potência que hoje somos. O Rio ganhava destaque. Artistas internacionais, como Madonna, haviam se tornado figuras fáceis nos nossos hotéis.
Para se adequar a esses tempos de modernidade que surgiam, o prefeito da época, Eduardo Paes, criou o chamado “choque de ordem”. Com isso, tentava acabar com as ilegalidades ou imoralidades (ou apenas malefícios) que já eram comuns por aqui.
Foi, assim, o primeiro verão em que o carioca não pôde jogar altinha e frescobol na areia perto do mar antes das 17h. E quase foi um verão sem o, na época, popular mate de galão, que acabou escapando das proibições do prefeito.

O carnaval de 2010 foi organizado, se comparado aos anos anteriores. Os mijões de rua foram presos em quantidade considerável, banheiros químicos foram multiplicados, assim como os blocos, que também atraíam cada vez mais foliões. A campeã daquele ano foi a Unidos da Tijuca, com um desfile que levantou a Sapucaí, que ainda não era o que é hoje.
O sol começava a mostrar seu potencial, com o qual hoje tanto sofremos. Foi um dos verões mais quentes da história até então. As temperaturas no RJ permaneciam entre os 40 graus. Calor que não pode ser comparado ao que enfrentamos atualmente, mas sofrível para a época.

Eram tempos de ficar o dia inteiro, inclusive à noite, na praia. Tudo acontecia ao redor de Ipanema. A Farme de Amoedo ficava entupida de turistas, a antiga Chaika, que hoje é uma Igreja Evangélica na Visconde de Pirajá, era o local de refeição para os freqüentadores do posto 9.
Ao longo dos anos tudo foi mudando. Lembro com saudade daqueles dias. Eram tempos de mudança. Ipanema, o Rio, o Brasil, o mundo, começava a se transformar no que é hoje. O Rio de Janeiro continua lindo.
Mas nada foi o mesmo. Nunca mais.

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quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Um pouco de luz

Três livros lidos recentemente (“Francisco de Assis”, “1984” e “O Símbolo Perdido”) me fizeram escrever esse pequeno texto, uma breve exposição de idéias.

Em cada época, sempre existiram pessoas mais esclarecidas do que a grande massa. São os chamados “a frente de seu tempo”. Estes conseguem enxergar além, conseguem ver o que as pessoas ao seu redor não conseguem, já que ainda não são capacitadas para tal.
São geralmente considerados loucos ou meros rebeldes, pois não se enquadram no padrão pensante da época em que vivem. No geral, são compreendidos apenas gerações mais tarde. Em vida, sofrem e morrem por suas idéias.

A evolução não seria possível se ao longo dos séculos não houvesse surgido esses gênios capazes de fugir do óbvio.
A missão dessas pessoas era justamente essa: promover a renovação, permitindo assim o ciclo evolutivo da existência humana.
Exemplos não faltam ao longo da história: Francisco de Assis, Gandhi, Einstein, Da Vinci e tantos outros, cada um com sua função, sempre de especial importância.

A ignorância é o pior dos males, porém ela é essencial para o controle correto da evolução, já que tudo tem sua hora de ser e é prejudicial antecipar as mudanças, as rupturas.
O tempo certo para que ocorra uma real mudança evolutiva é quando a maioria das pessoas está pronta, espiritualmente, para ser parte dessa nova realidade.

Exemplos ruins também fazem parte desse processo. Assim, as pessoas enfrentam todo o sofrimento causado por serem ainda ignorantes, imperfeitas e viverem em um mundo ainda impuro. Passando bem por essas difíceis tarefas em vida, se tornam cada vez mais iluminadas.
Não existe crescimento sem dor. Não saberíamos o significado da luz se não conhecêssemos a escuridão.

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quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

para ser tudo

Sol morno da tarde, vento gelado que traz o cheiro de cada sensação
colorido do céu
Verde vivo no balanço das árvores, noite quente de luar
um preguiçoso prazer de existir
A letra do poeta, uma roda de amigos
conversa jogada fora
Timbre doce da sua voz de menina, o prazer do reencontro
meu sagrado amor
O perde e ganha, lágrima e riso
sabores de cada estação
Espetáculo de viver

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sábado, 23 de janeiro de 2010

Olhos de criança

Botafogo, quase 18h. Esperando o sinal abrir para atravessar, eu olho para o lado e vejo o Cristo Redentor refletindo o brilho dos raios de sol, como se estes saíssem do próprio Cristo.
Uma visão espetacular, mas que não estava sendo vista pelas pessoas próximas a mim, preocupadas demais com o próprio cotidiano para enxergar a vida como ela é.
Às vezes, é preciso parar um pouco para admirar, para agradecer.
Especialmente em uma cidade como o Rio de Janeiro, onde vemos um cartão postal em cada esquina.
Os turistas que aqui chegam se encantam com os cenários de nossa cidade, enquanto que nós, cariocas, continuamos com os vidros fechados em um engarrafamento na Lagoa, indo à praia de Ipanema sem reparar na beleza do formato do Dois Irmãos, não se surpreendendo com a visão inesperada do Cristo a partir de muitos cantos da cidade.


Não podemos nos cansar do habitual, mas sim valorizar e reverenciar o lugar que moramos: a cidade mais bonita do mundo.
Devemos ser como as crianças, que ficam fascinadas com tudo, já que tudo é inédito para elas. Por que só o novo nos causa fascínio?
Uma imagem, quando vista pela décima vez, permanece tão bela quanto da primeira vez, o que muda é o nosso olhar já acostumado, já envelhecido.
Então voltemos a ter olhos de criança.
A vida é muito mais bela do que a gente costuma ver. É preciso apenas ter os olhos certos para enxergar.

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sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Reze pelo Haiti

Um pensamento:

Um haitiano anda nervoso pela rua destruída e repleta de corpos espalhados em meio aos escombros. Nos braços, segura firme, como se fosse um filho, a sacola de comida que conseguiu na disputa animalesca com outros haitianos pela sobrevivência. "Os seres humanos me assombram" - pensa ele.

Não tem mais nada. Dois dias antes perdera mulher e filha no tremor que devastou o já castigado país.
Por um momento, sente esperança no futuro, pois acabara de garantir mais alguns dias de vida com a comida que vai administrar cuidadosamente, longe da cobiça da multidão de desesperados.

Quase chegando em seu destino, sente que alguém pressiona um objeto cortante em suas costas.
- Passa a sacola ou te furo - diz um miserável de olhos famintos.
- Faça isso. Morrerei do mesmo jeito se te der a sacola. Me fure e acabe de uma vez com essa dor, que vai me perseguir enquanto eu viver.

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sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Elas fazem samba também

Desconhecidas do grande público e um pouco obscuras até mesmo para aqueles que acompanham carnaval, as escolas de samba pertencentes aos grupos de acesso não possuem um espaço apropriado na mídia em geral.

O grupo de acesso A ainda possui maior apelo, já que com a drenagem feita no grupo Especial, muitas escolas conhecidas acabaram rebaixadas, como Império Serrano e Estácio de Sá, outrora campeãs do grupo principal, e as irreverentes São Clemente e Caprichosos de Pilares. Além de outras escolas de um pouco menos expressão na atualidade, mas que no passado também fizeram bonito e frequentaram o Especial algumas vezes, como Império da Tijuca, Unidos de Padre Miguel, Rocinha, Paraíso do Tuiuti e Santa Cruz. Também há escolas mais novas, como a Renascer de Jacarepaguá, que é considerada uma escola promissora, possivelmente figurando entre as grandes nos próximos anos.



Mas os demais grupos não recebem uma cobertura digna, sendo sequer mencionados em outros veículos que não pertençam às mídias especializadas.

No grupo de acesso B, hoje nomeado de Rio de Janeiro I, também há agremiações expressivas como Tradição, Lins Imperial, Jacarezinho e Arranco do Engenho de Dentro, todas com passagem no grupo Especial. Ao serem rebaixadas ao que seria a terceira divisão do carnaval, acabaram completamente abandonadas pela imprensa, e quem quiser alguma informação sobre elas fica sem qualquer alternativa.

Nos demais grupos a situação é ainda mais complicada. Os grupos Rio de Janeiro II, III e IV (os antigos grupos C, D e E) nem ao menos desfilam na Sapucaí, tendo seu carnaval resumido ao público que acompanha suas apresentações na Intendente Magalhães. E um público que só não é menos numeroso pelo fato desses desfiles serem gratuitos, já que eles ocorrem nos mesmos dias de desfiles dos outros grupos, no Sambódromo. Estão entre elas Vizinha Faladeira, já campeã do Especial; Unidos da Ponte, tradicional, com diversas passagens pelo primeiro grupo; Unidos de Lucas e Em Cima da Hora, duas das mais importantes escolas do estado, tendo a primeira apresentado “Sublime Pergaminho”, em 1968 e a segunda “Os Sertões”, em 1976, dois dos melhores e mais famosos sambas-enredo de todos os tempos.



Além dessas ainda há outras escolas menos conhecidas, mas que também possuem sua tradição, como Arrastão de Cascadura, Unidos do Cabuçu e Leão de Nova Iguaçu, ambas também com passagem pelo Especial. Fora algumas outras escolas promissoras como a surpreendente Corações Unidos do Amarelinho, que fez seu primeiro desfile em 2005 e desde então sempre figurou entre as primeiras posições, tendo em 4 anos ascendido de grupo 4 vezes.

O pouco interesse do público por essas agremiações e seus desfiles só ajuda a as afundar cada vez mais. Se ao menos tivessem direito a uma cobertura decente, com certeza chamaria a atenção daqueles que as viram brilhar no passado. Mas apenas o Especial recebe atenção, o desfile principal, o que passa na Globo. Ao acesso A resta a transmissão da CNT, ao acesso B, a transmissão da Rádio Manchete e aos demais grupos, só Deus sabe...

Em 1990 a São Clemente apresentou o enredo “E o Samba Sambou”, que previa, de forma pessimista, como seria o carnaval no futuro. Em 2010 a mesma agremiação trará o enredo “Choque de Ordem na Folia”, cujo samba possui os versos “Eu bem que te avisei que o samba um dia ia sambar...” Por que não escutaram a São Clemente no ano de sua melhor colocação? Ah, talvez porque no ano seguinte ela tenha sido rebaixada, sumido de vista, e sua mensagem caída no esquecimento.


Por André Ramos

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